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Tempo da Delicadeza

Tchau, Manoel…

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Manoel de Barros

Manoel de Barros | Tempo da Delicadeza

“Gostaria de ser lembrado como um ser abençoado pela inocência.”

 

Morre aos 97 anos, o poeta brasileiro Manoel de Barros, deixando mais de 20 livros de poesias publicados.
Homem simples e sábio seguiu sua vida dando lições de humildade.
Preferia a palavra escrita à palavra falada.
Tímido, o poeta dizia: “Só trancado e sozinho consigo me expressar. Mesmo sem linearidade, por trancos, por sugestões, ambíguo – como requer a poesia.”

Manoel de Barros | Tempo da Delicadeza

Manoel de Barros | Tempo da Delicadeza
“Por que deixam um menino que é do mato
Amar o mar com tanta violência?”

Manoel de Barros | Tempo da Delicadeza
“Agora estou sonhado de glicínias.”

Manoel de Barros | Tempo da Delicadeza
“Estátuas sofrem de lodo nos jardins abandonados.”

Manoel de Barros


“Quem levará para casa todos os dias a mesma solidão, senão os doidos de beco?”

 

Casa
“De que me vale ter a casa sem ter a mulher amada dentro?”

Tempo da Delicadeza

 Tempo da Delicadeza
“Essas doces ruínas mortas ou alamedas
Esquecidas em sua tranquilidade de coisas anônimas, – cuidado com elas!
São infestadas de lobos solitários… “

Tempo da Delicadeza

 

Tempo da Delicadeza
” A gente é rascunho de pássaro
Não acabaram de fazer…”


“Bicho acostumado na toca, encega com estrela.”

poetry
“Não gosto de dar confiança para a razão, ela diminui a poesia.”

 

Abaixo o meu poema preferido de Manoel de Barros:

Matéria de Poesia

1.

Todas as coisas cujos valores podem ser
disputados no cuspe à distância
servem para a poesia

O homem que possui um pente
e uma árvore
serve para poesia

Terreno de 10×20, sujo de mato – os que
nele gorjeiam: detritos semoventes, latas
servem para poesia

Um chevrolé gosmento
Coleção de besouros abstêmios
O bule de Braque sem boca
são bons para poesia

As coisas que não levam à nada
têm grande importância

Cada coisa ordinária é um elemento de estima

Cada coisa sem préstimo
tem seu lugar
na poesia ou na geral

O que se encontra em ninho de joão-ferreira:
caco de vidro, garampos,
retratos de formatura,
servem demais para poesia

As coisas que não pretendem, como
por exemplo: pedras que cheiram
água, homens
que atravessam períodos de árvore,
se prestam para poesia

Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma
e que você não pode vender no mercado
como, por exemplo, o coração verde
dos pássaros,
serve para poesia

As coisas que os líquenes comem
– sapatos, adjetivos –
tem muita importância para os pulmões
da poesia

Tudo aquilo que a nossa
civilização rejeita, pisa e mija em cima,
serve para poesia

Os loucos de água e estandarte
servem demais
O traste é ótimo
O pobre-diabo é colosso

Tudo que explique
o alicate cremoso
e o lodo das estrelas
serve demais da conta
Pessoas desimportantes
dão para poesia
qualquer pessoa ou escada

Tudo que explique
a lagartixa de esteira
e a laminação de sabiás
é muito importante para a poesia

O que é bom para o lixo é bom para poesia

Importante sobremaneira é a palavra repositório;
a palavra repositório eu conheço bem:
tem muitas repercussões
como um algibe entupido de silêncio
sabe a destroços

As coisas jogadas fora
têm grande importância
– como um homem jogado fora
Aliás, é também objeto de poesia saber
qual o período médio que um homem jogado fora
pode permanecer na Terra
sem nascerem em sua boca
as raízes da escória

As coisa sem importância
são bens de poesia
pois é assim
que um chevrolé gosmento
chega ao poema
e as andorinhas de junho.

Imagens: Pinterest

 


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